Prof. Doutor Lúcio Craveiro

Começo por agradecer as palavras amáveis que me dirigiram, mas devo confessar que é com muito prazer que volto sempre a Évora, pois levei desta cidade indeléveis recordações que sempre me acompanharam.

Hoje, Évora vê felizmente restaurada a sua Universidade; as leis da intolerância puderam fechar as suas aulas, mas não puderam apagar a glória e a fama de seus mestres. A Universidade ressurgiu a  relembrar um justificado alvoroço, a sua história.

Cabe-me, por isso, recordar agora alguns antecedentes que certamente ajudaram a preparar a restauração desta Universidade.

E, entre eles, começo por referir o “Congresso Científico Internacional” organizado pela Sociedade Francisco Suarez da Universidade de Coimbra e pela Faculdade de Filosofia de Braga, também sucessora do espírito de renovação cultural da Instituição Eborense, em 1959, para comemorar precisamente o IV Centenário da Fundação da Universidade de Évora pelo Cardeal - Rei D. Henrique a 1 de Novembro de 1959.

Este Congresso foi dos mais notáveis que se realizaram entre nós, pois além de receber adesões e mensagens gratulatórias de numerosas Universidades de 16 nações, tanto europeias, como americanas, reuniu duas centenas de congressistas e teve a presença das mais altas autoridades governamentais e académicas. E precisamente nas quatro secções em que se organizou o Congresso foi estudada aprofundada a história e a irradiação cultural da Universidade de Évora. E assim nas belas, mas silenciosas salas dos Gerais e da Aula Magna desta Universidade voltaram então a ouvir-se vozes universitárias que vieram reacender a memória da Cultura e influência que esta Instituição desenvolveu com brilho durante dois séculos e suas ressonâncias para além desse tempo. Este Congresso foi, por isso, um despertar de atenções e de investigação que reascendeu o fogo vivo mas escondido e que desde esse momento ameaçou de momento a reaparecer em renovado fulgor.

E não terá também este Congresso que ajudou a originar no Senhor Conde de Vilalva a ideia de trazer de novo os jesuítas para Évora? Era eu então Provincial da Companhia de Jesus em Portugal, quando o Sr. Conde, pelos anos de 60, propôs o seu empenho de que regressássemos ao Alentejo. Depois de várias reuniões deliberou-se fundar em Évora o Instituto Superior Económico e Social.

Como sempre, em Portugal, a burocracia oficial não só não facilita mas dificulta – e de que maneira?! – as iniciativas culturais. Tratava-se de trazer para Évora o Ensino Superior, então apenas reservado ás universidades Públicas e de criar dois cursos que até aí não existiam entre nós: o de Economia e Gestão de Empresas e o de Sociologia e Ciências Sociais. O Prof. Augusto Silva já narrou a História destes Cursos no Livro “O Instituto Económico e Social de Évora”. Não foi fácil convencer a Junta Nacional da Educação da utilidade e até da necessidade destes cursos, sobretudo de Economia e Gestão de Empresas que já existia há mais de 50 anos nos Estados Unidos. Foi difícil convencer os juristas e os economistas que um curso de Gestão de Empresarial não dispensaria a sua presença e intervenção, antes pelo contrário; um empresário lucrava com conhecimento de base económica e jurídica que apenas os ajudava a dialogar com eles para o desenvolvimento da sua empresa.

Finalmente o Relator da Junta Nacional de Educação, depois de muitas objecções e um pouco constrangido, deu parecer positivo e os Cursos foram aprovados.

Assim pode inaugurar-se em Évora um Instituto que embora não fosse Universitário ainda, era já de ensino superior.

Recordo uma palavra que proferi na inauguração do ISESE: “Por iniciativa do Senhor Conde de Vilalva regressou a Évora a Companhia de Jesus que dirigia a antiga Universidade e com ela os Estudos Superiores”.

Tanto o Congresso Nacional de 1959, como a criação do ISESE, foram bons pronuncios para o regresso da Universidade de Évora que felizmente celebra já festivamente o seu 25º aniversário.