Prof. Doutor Carlos Portas

Quero começar por referir que sou da geração que beneficiou qualitativamente da reforma introduzida pelo Prof. Veiga Simão. A sua legislação permitiu que  prosseguisse a minha pós-licenciatura e, me doutorasse na Universidade Técnica de Lisboa em 1971.

A história das minhas relações com a Universidade de Évora, começa em 1966, altura em que proferi uma conferência no Instituto Económico e Social  e  conheci o seu Director, Padre Doutor Lúcio Craveiro da Silva. Com efeito estive no famoso colóquio sobre o “Desenvolvimento do Alentejo” onde então já se discutiam abertamente os problemas da luta de classes, do embrião do estado - providência e do atraso de Portugal  com o resto da Europa.  Fiz então uma intervenção polémica a favor dos sistemas de regadio, da defesa dos ecossistemas tradicionais e do novo montado.

Parti depois para Angola, e daí para os Estados Unidos da América, entretanto acompanho o desenrolar dos acontecimentos políticos locais através do Diário do Sul.

O Prof. Ário Azevedo e eu trocamos cartas, através das quais vou ficando inteirado das dificuldades do Prof. Veiga Simão em implementar as suas ideias. Mas em Setembro de 1973 realiza-se o  almoço dos Loios, que reúne várias pessoas envolvidas nestes processos e marca a contagem decrescente para a tomada de posse da Comissão Instaladora do Instituto Universitário de Évora. Quando falámos das instalações o Dr. Armando  Perdigão oferece a ida para a sede de CCRA.  Em Évora várias forças políticas locais então dominantes ficam alarmadas com os discursos dos Prof.ºs Veiga Simão e Ário  Azevedo na tomada de posse. Passou-se depois o Verão Quente de 1975 e com ele  a eminência de o Instituto ser extinto.

Com efeito o Prof. Orlando Carvalho dizia que as Universidades novas não passavam de demagogia do Prof. Simão, que seria uma solução mais barata se os professores aqui viessem dar umas aulas, em sistema de universidade à distancia.

O Prof. Ário Azevedo argumentava que as ciências biológicas vivem da observação de plantas e animais, as quais crescem a cada dia.

Preparámos então o Livro Verde que se fez chegar ás mãos do Ministro Vitorino Magalhães Godinho e que tornou irreversível a Instituição.

A ocupação da Universidade que esteve pensada a partir dos trabalhadores agrícolas da Mitra, também foi outro obstáculo que precisámos de ultrapassar. Uma pessoa que muito contribuiu para evitar a ocupação foi o  Dr. Vasco Valdez, um dos colaboradores iniciais. Por ser Doutorado em Letras o Prof. Rosado Fernandes (um homem de oposição ao anterior regime, um dos únicos docentes que se demite na greve de 1962 como forma de protesto), favoreceu o recomeço das Ciências Humanas.

A seguir ao 25 de Novembro, sou incumbido de conduzir o processo de negociação com a Comissão que ocupava o Instituto Superior Económico e Social (ISESE), um processo muito difícil, mas que culmina com a integração dos seus docentes qualificados e alunos na nossa Universidade.