Arquitecto António Mattos Gomes doa acervo bibliográfico do seu atelier à Biblioteca Jorge Araújo

Na senda de doações anteriores de livros e fascículos de periódicos nacionais e internacionais, a instituições de ensino ou a seus colaboradores e amigos, a Biblioteca Jorge Araújo acolheu em Outubro de 2018 a doação de um conjunto de periódicos e de cinco réguas “T” pertencentes ao atelier do Arquitecto Mattos Gomes que os ofereceu ao Departamento de Arquitectura da Universidade de Évora. Este acervo encontrará utilidade nos estudantes e investigadores em Arquitectura, no seu desenho e investigação.

Na senda de doações anteriores de livros e fascículos de periódicos nacionais e internacionais, a instituições de ensino ou a seus colaboradores e amigos, a Biblioteca Jorge Araújo acolheu em Outubro de 2018 a doação de um conjunto de periódicos e de cinco réguas “T” pertencentes ao atelier do Arquitecto Mattos Gomes que os ofereceu ao Departamento de Arquitectura da Universidade de Évora. Este acervo encontrará utilidade nos estudantes e investigadores em Arquitectura, no seu desenho e investigação.

O acervo doado é composto por 125 de monografias publicados entre 1986 e 2009, a nível nacional (“Arquitectura e vida”, “Jornal Arquitectos”, “Arquitectura Portuguesa”, “Architécti”, “Revista Arquitectos”, “Arquitectura & Construção”, “ARCHINEWS”), e internacional (“CASABELLA”, “INTERNI”, “Diseno Interior”, “ON Diseno”, “Interior Design in Japan”, “The Plan“, e “ARDI”).

 

Numa leitura imediatista, poderia parecer o acolhimento de mais umas revistas de um atelier cujo desmembramento o tempo tornou inevitável e que registam um período da arquitectura portuguesa do qual exemplares estão já disponíveis e são pouco requisitados. As revistas de arquitectura são documentos de disseminação de ideias de cultura de uma sociedade, que registam um período temporal e um contexto social e artístico específico. O Departamento de Arquitectura tem desenvolvido um esforço conjunto com a Biblioteca Jorge Araújo para completar as suas colecções de periódicos através de doações de ateliers cuja produção faz parte da história da arquitectura portuguesa, e que aqui encontram espaço de consulta por investigadores, alunos, etc.

Doações de acervos, mesmo que parciais, de ateliers de arquitectura são assim bem-vindas a uma Escola onde Arquitectura é um dos cursos estruturantes. Com estes acervos se poderá contribuir para o estudo de práticas profissionais, dos seus interesses e referências, que se encontrarão reflectidos nas escolhas das aquisições e assinaturas de periódicos que revestiam as suas prateleiras, prática em desuso na actualidade face à disponibilização virtual de livros e revistas na internet.

Mas se a recepção dos periódicos poderia motivar essa leitura, a doação dos instrumentos do desenho técnico de arquitectura, das réguas “T”, numa época de tratamento digital da informação, poderia motivar comentários relacionados com termos como “retrógrado”, “antiquado” ou até mesmo “anti-progresso”. A modernidade, ou melhor, a contemporaneidade disponibilizou aos arquitectos uma série de ferramentas de desenho onde, através de um rato e um ecrã, mãos e olhos constroem uma realidade virtual idealizada no pensamento criativo através de comandos pré-concebidos para “auxiliar” a tarefa criativa do arquitecto.

Mas de que falamos quando falamos da tarefa criativa do arquitecto? Qual será a liberdade maior para um criador do que aquela que depende apenas da mão, do lápis e do papel para fluir o pensar, experimentar o erro e propor a certeza? Essencial para a transmissão das ideias à obra, para a concretização material de ideias, o desenho técnico, ou desenho rigoroso, é, como o nome indica, necessário para que o rigor da ideia seja adaptado à realidade física onde vai ser implementado. Nada a opor, portanto ao uso da informática. Mas a fluidez da linha no papel, da mancha da sombra, da intensidade da grafite não é possível num ecrã. Ao rigor que se obtém no paralelismo que o esquadro deslizante sobre a régua “T”, em papel de esquiço ou vegetal permite, acompanha-o o cheiro da grafite, o tempo da linha, o prazer do desenho. A liberdade de expressão que a mão - se ensinada, se “praticada”, se disponível e desejosa por encontrar o que procura – proporciona, ainda e (pelo menos) desde Leonardo da Vinci, o encanto da descoberta, o desespero da incerteza e o prazer do encontro com a forma e o espaço certos.

E por isso o prazer imenso em dizer aos alunos que podem usufruir ali, na sala de aula, de cinco réguas “T”, cuja idade conta muitas histórias do atelier Mattos Gomes onde auxiliaram na produção da arquitectura hoje por eles passível de ser vivenciada e apreciada. Assim se transmitem valores patrimoniais, assim se entende o valor da transmissão de um legado por aqueles cujo conhecimento e experiência prática da profissão nos ensina o valor das palavras continuidade, contemporaneidade, criatividade.

    

Mas quem é o Arquitecto Mattos Gomes?

António Manuel Santos Mattos Gomes nasceu na Amadora em 5 de Março de 1930. Diplomou-se em Arquitectura pela ESBAL em 1957, tendo sido aprovado como sócio (n.º 295) do Sindicato Nacional dos Arquitectos nesse mesmo ano. A sua vida associativa foi, aliás, intensa tendo sido o primeiro presidente da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos (1974-1977), o primeiro Director do Jornal Arquitectos (1981-1982, onde escreve os editoriais) e co-responsável, juntamente com a Direcção da AAP, pela 1ª reedição da Arquitectura Popular em Portugal (1980).

Da sua actividade cívica, foi deputado na Assembleia Municipal de Lisboa, durante 2 mandatos, participou em Congressos e Encontros internacionais, expôs trabalhos em diversas exposições de arquitetura, e participou em vários Concursos de arquitetura. Publicou ainda textos de opinião em diversos periódicos.

Exerceu a profissão em actividade liberal e enquadrada por instituições. Assim, a partir de 1953 desenvolvendo estudos e projetos na Comissão Executiva de Obras Militares Extraordinárias (Aeródromos Militares), a partir de 1957 na Direção do Serviço de Infraestruturas da Força Aérea (nomeadamente para as Bases de Montijo e Espinho - OTAN) e em 1963, na Direção de Obras da Base Aérea de Beja (responsável pela concepção de todas as instalações).

Em 1970 é convidado para Diretor do Serviço de Arquitetura do GNAL - Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, e entre 1978 e 1997 desenvolve actividades na ANA-EP - Aeroportos e Navegação Aérea, onde dá assessoria a estudos para aeroportos e aeródromos em território nacional (nomeadamente ampliação dos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal, Ponta Delgada, Porto Santo e Flores) e em países africanos de língua oficial portuguesa (Maputo, Sal e Praia em Cabo Verde)

A sua actividade liberal tem início com estágio no atelier de Ruy Athouguia e Sebastião Formozinho Sanches. Elabora projetos de edifícios para Olivais Sul com C. Palma de Melo, A. Pires Martins e Fernando Torres, e em 1955 constitui atelier com Jorge Teixeira Viana e Francis Léon. Foi consultor na área da aeronáutica. Dos projetos e das obras em que colaborou destacam-se: o Bloco de Habitação em Cascais (50 fogos), conhecido por Torre verde; Agências para a Caixa Geral de Depósitos (em Tomar, Vila Nova de Poiares e Condeixa a Nova); e o Centro Cultural Roque Gameiro, na Amadora.

Prof. Auxiliar Sofia Aleixo, Janeiro 2019

Universidade de Évora . Escola de Artes . Departamento de Arquitectura

Publicado em 13.02.2019