Professor Doutor António da Silva

Ao assumir a direcção do ISESE, no princípio de 1972, não tive mais do que prosseguir a orientação do meu antecessor – Padre Lúcio Craveiro da Silva. Entre outras coisas, já ele me tinha assumido para a docência da cadeira de Antropologia Social e Cultural introduzida no círculo desta Escola em 1967, por ocasião duma pesquisa interdisciplinar de ciências sociais e humanas, sobre perspectivas mais ou menos próximas da acção jesuítica a nível nacional (e era o nosso caso) e internacional (em ligação com outros). Incumbido da coordenação planificada da investigação, podia contar, nos anos de 1966 e 1968, com a maioria dos docentes e investigadores do ISESE e outros, incluindo o próprio Director – Lúcio Craveiro da Silva.

Com isso se acentuava o cariz extra-Europeu e se instituía, definitivamente, o triângulo “Sociologia – Psicologia Social – Antropologia Cultural” que veio a marcar, ou ao menos a enquadrar a acção formativa desta instituição docente. Aliás, já eu fazia parte integrante do elenco especializado do ISESE quando, em 1968, aparecia publicado em pormenor sistemático e coordenado, o itinerário de todas as matérias de cada disciplina e do conjunto das suas interligações e história respectiva. Da (minha) actividade académica pré-ISESE, contava eu com a colaboração em Filosofia Social no arquipélago emergente do Instituto de Ciências políticas Ultramarinas cheio de pluralidade em estruturação e consolidação no interior da Universidade Técnica.

O livro respectivo, fora o primeiro a falar explicitamente de Filosofia Social nesse Instituto Estadual da Universidade Técnica e a ser publicado na colecção da Escola Eborense, mas o claustro de professores de Ciências políticas parece que não conseguiram desfazer, a respeito do autor e docente, o enigma da pertença “às direitas ou ás esquerdas”.  Além do mais, o quadro era complicado porque, entretanto, e em coincidência com a docência no ISESE, pertencia também ao grupo da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Gregoriana na especialidade “Mudança Social e Cultural” em África, nos seus vários sectores e com modalidades novas (diversas) de “curso participado”, de “curso concentrado”, de “block course” e outras.  É claro que se tratava de mudança social e/ou cultural, sócio-política, estratificação social comparada, etc. Mas era só isto e era isto que tanto o Prof. Lúcio Craveiro e os antropólogos e Professores Sociais da Gregoriana me encomendavam e não outra matéria de outra Faculdade, fosse sagrada ou profana, de que não sentiam lá necessidade.

Ao Prof. Craveiro da Silva não inibia nada esta situação, pois sabia que o doutoramento que tinha querido que eu tirasse, dava capacidade jurídico-canónica para reger, quando houvesse ocasião disso, toda e qualquer matéria constante do elenco de qualquer faculdade de “Teologia” dependente da Congregação Católica das Universidades (i.e., do Ministério de Instrução do Vaticano). Foi esta situação que me trouxe à incumbência do ISESE e à tarefa de coordenar o programa e os programas até aos 5 anos completos de currículo eborense alcançado em 73-74 e, em  ligação com isso, a busca de docentes contratáveis, nos encontros de colegas em viagens de trabalho situadas em dois períodos estratégicos do ano (Natal e Páscoa) com a mira nas reformas de estudos em Itália, França, Alemanha, Espanha e Inglaterra, para que a experiência de andarilho da Cultura facilitava discretamente. Também ali, e durante o encargo de dirigir o ISESE, após o 5 de Fevereiro de 1972, não era dispensado em Roma da colaboração na pesquisa empírica das Ciências Sociais e Humanas, quer em colaboração, quer individualmente na tutoria de teses, acompanhando e controlando mesmo à distância, trabalhos de campo mesmo em línguas estrangeiras. A partir de Setembro de 1972, o relançamento dos contactos e das sondagens em ordem à concretização da Universidade para Évora. Viagens semanais a Lisboa não deixavam arrefecer a causa do ISESE, nem confirmar a ideia da desistência desejada em alguns quadrantes.

As hipóteses mais consideradas eram as que tinham sido já tentadas e as que lá fora se punham em prática na legislação que se adquiriu em dimensão mundial, as saídas em mercado de trabalho e estudo das iniciativas alheias para cooperação e aproveitamento. Com a modéstia científica de quem sabia que não sabia tudo, nem muito menos. Enfim, o aproveitamento dos ventos contrários para empurrar o barco.

O ano de 1973 trouxe contactos com a equipa da futura Comissão Instaladora, o exorcizar de possíveis (muito impossíveis) receios de monopólio “jesuítico”, depois a nomeação e tomada de posse dessa futura Comissão a 4 de janeiro de 1974, sob o signo da “joint venture” da cooperação pública e privada.

Os acontecimentos de 1974, ocorridos no ISESE, iriam alterar o rumo previsto para a relação entre o Instituto Universitário de Évora e o Instituto Superior Económico e Social.